Fui mãe pela segunda vez há um mês e meio. Tinha planeado tudo ao pormenor, cada quarto de hora dos meus dias, até à data prevista do miúdo nascer, estava destinado a fazer algo: escrever artigos, tirar fotos, agendar publicações, fazer vídeos, pesquisar artigos de inspiração para os próximos meses, elaborar propostas, estudar, fazer avaliações, limpar e organizar a casa, lavar roupas e arrumar roupas… Mas a vida nem sempre corre como planeamos. Estive doente uma semana em março e o miúdo nasceu duas semanas antes do que tinha previsto, resultado: todos os to do’s ficaram pendurados. Ainda assim, nos primeiros dias após ele nascer tentei manter minimamente todas as áreas ativas: profissional e pessoal. Mas mais uma vez “saiu-me o tiro pela culatra”. Ao décimo segundo dia de vida do meu filho mais novo, entre surpresa, angústia, tristeza e raiva tive de enfrentar por duas vezes o internamento dele nos cuidados neonatais. Felizmente correu tudo bem, não se revelou nada de grave e o puto está fresco e fofo como se quer.
Este mês e meio foi intenso a nível emocional e também de desenvolvimento pessoal.
Por muito que saiba em teoria as técnicas, as capacidades e habilidades necessárias para uma correta gestão emocional, quando abalroada por uma experiência inesperada e angustiante, limitei-me a viver e sentir como qualquer outro ser humano. Senti a dor, a tristeza, o medo, a impotência, a raiva. As lágrimas caíram descontroladamente, a respiração ficou suspensa, o coração bateu em arritmia, o peito ficou tão tenso e apertado que doía de forma aguda e as palavras, essas, saíam mudas.
Entrei no piloto automático de sobrevivência e de repente quando tudo acalma e a bonança vence o mau tempo, continuei ainda meia dormente. Sentia-me imensamente grata por estar de novo em casa, por estarmos todos bem, por poder dar atenção à minha família que agora é de quatro. E limitei-me a focar a minha ação no recém-nascido que faz agora parte da minha vida, conciliando isso também com as necessidades do mais velho e de gestão familiar e assim o tempo foi passando.
Até que num dia, estava a fazer o jantar, baixei-me para tirar uma panela do armário e senti uma dor no peito. Uma dor forte, aguda. Aquela sensação era-me familiar. Há uns valentes anos atrás, estava eu a terminar a faculdade, uma dor semelhante levou-me ao médico. E agora reconheci aquela sensação, foi o alerta do meu corpo para sair do piloto automático das últimas semanas. Todo o novelo de emoções passadas, embrulhado numa grande camada de ansiedade estava ali, há dias e dias e eu a ignorá-lo completamente. Percebi, naquele momento, que precisava parar uns minutos, tirar um tempo para mim e ouvir o que o meu corpo me estava a tentar dizer.
Sem me aperceber, deixei-me andar durante semanas a ser levada numa cavalgada de hormonas, emoções e pensamentos desgovernados.
Felizmente o meu corpo deu sinais para travar isso e eu dei-lhe ouvidos.
Apercebi-me que o facto de querer chegar a todo o lado e fazer tudo, de estar a estabelecer metas pouco realistas me estava a causar ansiedade e frustração. E no meio disto tudo esqueci-me de mim.
Foi importante parar, reconhecer emoções, aceitar, olhar para o contexto, reorganizar pensamentos, ajustar metas e colocar-me também como uma prioridade nos meus dias. Eu consigo fazer qualquer coisa a que me proponha, mas não consigo fazer tudo de uma vez só e muito menos se não estiver em equilíbrio.
E se eu não estiver bem comigo, regulada, equilibrada dificilmente vou conseguir estar bem para os meus filhos, para a minha família e para vocês que me leem aí desse lado.
Às vezes, quase sem nos darmos conta, os acontecimentos da vida relembram-nos e ensinam-nos exatamente aquilo que precisamos. E não tem mal, parar, reformular, pedir ajuda, aceitar a nossa simples condição de ser humano com limites, fragilidades e seguir em frente.
Um beijinho,
Mónica