Numa altura em que se regressa ou começa as aulas, trabalho, novos projetos, fazem-se balanços, definem-se novos objetivos, traçam-se planos, há um entusiasmo contagiante que me move a ir para a frente, pôr mãos à obra e fazer acontecer.
Desejo estabelecer novas rotinas, acordar mais cedo, fazer exercício, tomar um bom pequeno-almoço, levar o miúdo à escola a tempo e sem birras logo pela manhã, acabar de ler aquele livro que está na mesa de cabeceira desde janeiro, ver menos televisão, comer mais saudável, perder peso, acabar com o açúcar no café… enfim… enquanto ser humano não preciso de estabelecer grandes objetivos para fazer a diferença no meu dia-a-dia. Aliás pequenas mudanças podem fazer toda a diferença na minha produtividade no trabalho, na boa disposição, na qualidade de vida em geral.
E quando defino estes objetivos que sei serem importantes para mim, para o meu bem-estar estou carregada de motivação e está tudo bem quando ela está presente.
Acontece que, muitas vezes, passados alguns dias/semanas começo a ser contagiada por algum tipo de boicote e perco o foco, a motivação vai-se. Já vos aconteceu isso?
Saber que querem muito fazer uma coisa, que é importante para vocês, mas a meio caminho desmoralizam, arranjam desculpas e acabam por não fazer aquilo a que se tinham proposto?
Ora se queremos efectivamente viver melhor, porque raio não fazemos aquilo que sabemos ser o melhor para nós?
Primeiro de tudo porque existem muitos estímulos à nossa volta e facilmente a nossa atenção se distrai, depois porque o nosso cérebro é mesmo malandro e não gosta nada de sair da sua zona de conforto.
Imaginem a seguinte situação: alguém que sempre foi adepta de sofá e séries na TV decide que agora é que vai ser. Agora é que vai para o ginásio tirar o rabo de casa e fazer algo pela sua saúde.
Na primeira semana cumpre o plano à risca, comer bem, exercícios físico, dormir bem. A motivação está lá toda. Mas depois na segunda semana, o cérebro e todo o corpo estranham aquela mudança e apesar de conscientemente a pessoa saber que é o melhor para ela, o cérebro começa a boicotar de forma inconsciente: “Não vás hoje está muito calor, ou está muito frio, ou ainda te doem os músculos da semana passada, ou estás a ficar doente” e todas essas desculpas parecem ser válidas e cheias de razão. Porquê? Porque o nosso cérebro quer proteger-nos e tudo o que fazemos que quebre aquilo a que está habituado ele vai perceber como perigoso e quer-nos proteger.
Aqui a questão é: quem é que manda afinal?
Queremos ser controlados pela parte do cérebro mais primitiva, guiada pelas emoções e medo ou queremos dar uso a toda a nossa inteligência e fazer aquilo que sabemos ser melhor para nós?
Se a resposta é: Quem manda sou eu e vou fazer aquilo que acho ser melhor para mim!
Tenho duas sugestões para ti.
A primeira é ouvires o que te diz o teu “diabinho”, como eu carinhosamente lhe chamo e perceberes para que é que ele te está a alertar concretamente. Será para a necessidade de mais descanso, de conforto, de apoio? Por exemplo, no caso da pessoa que era muito sedentária e agora decide fazer exercício, provavelmente o cérebro está alertá-la para o facto de ter de descansar mais para os músculos recuperarem, ou fazer uma massagem ou passar um anti-inflamatório.
Depois de reconhecida a necessidade primária por detrás do “boicote” e garantindo que conseguimos garantir essa necessidade e conciliá-la com o novo objetivo vai ser mais fácil cumprir o plano.
A segunda sugestão que tenho para ti é a técnica dos 5 segundos, da Mel Robbins podem ler um pouco mais sobre a técnica aqui ou ver este vídeo, mas resumidamente é isto: quando percebes que estás a inventar desculpas ou antes que isso possa acontecer, fazes uma contagem decrescente 5,4,3,2,1 e vais ou fazes sem pensar em mais nada. É a regra básica do “just do it”, mas faz toda a diferença.
Lembro-me quando andava a treinar para a maratona que o relógio despertava às seis da manhã e o meu cérebro dizia “não vás!”, “está frio!”, “ainda é de noite”, “vais correr sozinha? Que horror!” e se eu me deixasse levar por essas coisas não ia. Então descobri que o truque era não pensar. Assim que o despertador tocava levantava-me e ia. Simples, mas funcionou!
Eu sei que isto pode parecer demasiado básico, mas experimenta! 5,4,3,2,1 e vai!
Faz aquilo que te faz bem, sem medos e depois partilha aqui nos comentários o resultado!
Já te disse que adorava ouvir de ti, as tuas experiências, dúvidas e opinião?
Carla Fernandes diz
Estou a sentir esta falta de foco e muita resistência neste período pós férias (já regressei há quase um mês…). Ainda não percebi bem como desbloquear, o “diabinho” tem sido mais forte 🙂
monica diz
O período pós férias é para muitos uma fase difícil e nem sempre a motivação está lá. Às vezes ajuda perceber a “intenção” primária por detrás dessa voz. Talvez seja encontrar momentos que transmitam mais calma (em família ou sozinha), ou necessidade de desafio (às vezes precisamos introduzir novos desafios para nos dar um “up”), ou comunicar aos que nos são próximos alguma necessidade (de apoio, de ajuda, de carinho, de incentivo). Experimenta aceitar esse “diabinho” e tentar percebê-lo com carinho, ele às vezes diz-nos umas coisas engraçadas. 😉